terça-feira, 30 de março de 2010

O julgamento de Cristo

Meu Senhor foi entregue
Mt 26.47-27.26

Jesus viveu os seus últimos dias intensamente. Na noite anterior a prisão ele ceia com discípulos vai ao jardim de Getsêmani angustiado ora ao Pai e então é preso e levado ao sumo sacerdote. Jesus foi entregue. Esta verdade está bem clara nos seus últimos dias. Na noite de quinta para sexta-feira, no Getsêmani, ao pegar seus discípulos dormindo ele alerta: “Ainda dormis e repousais! Eis que é chegada a hora, e o Filho do Homem está sendo entregue nas mãos de pecadores.” (Mt 26.45). Ao romper da sexta-feira quando os principais sacerdotes e os anciãos entraram em acordo para o matarem: “amarrando-o, levaram-no e o entregaram ao governador Pilatos” (Mt 27.2). Após os judeus terem escolhido Barrabás: “Pilatos, depois de açoitá-lo, o entregou para ser crucificado.” (Mateus 27.26).
Jesus foi entregue julgado e condenado.
Vamos considerar os textos que relatam estas verdades:


1. Ele foi entregue por Judas (Mt 26.14- 26.47).
• Era um amigo: Foi escolhido por Jesus para ser apóstolo (Mt 10.4). Caminhou com Jesus. Ouviu seus ensinos. Compartilhou da mesma mesa. Esteve tão próximo de Jesus, no entanto, se perdeu.
• Era um ladrão: Com tesoureiro do grupo ele criticou Maria irmã de Lazaro, quando esta ungiu Jesus com um perfume valioso. Disse que poderia vender por 300 dentários e dar aos pobres. João comenta: “Isto disse ele, não porque tivesse cuidado dos pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, tirava o que nela se lançava.” Judas era “um ladrão” (Jo 12.6).
• Era ganancioso: A ganância tinha um preço. Em Mateus 26.14-16 ele estipula este preço. “Indo ter com os principais sacerdotes, propôs: Que me quereis dar, e eu vo-lo entregarei? E pagaram-lhe trinta moedas de prata”. Para ele, Jesus era apenas o meio desejado para satisfazer sua ambição e sua ganância. Agora, vendo a situação caminhar para um desfecho completamente diferente do que seu coração natural havia desejado, queria pelo menos tirar vantagem da posição que tinha ao lado do Mestre. A história de Judas ilustra bem os degraus de sua queda: Judas, o discípulo, o insincero, o ladrão, o traidor, o suicida!
• Traiu Jesus com um beijo: Sob o símbolo do amor e da amizade, aconteceu a ação mais tenebrosa da história da humanidade (Mt 26.47-50). Com toda razão este beijo de Judas tornou-se, desde àquela hora, expressão da traição e do fingimento. Mas, mesmo diante deste ato o Senhor age com amor e mansidão chamando-lhe de amigo. O sinal que Judas tinha a finalidade de evitar que Jesus porventura fugisse, enquanto um dos discípulos fosse aprisionado no lugar dele.
• E depois, com remorso enforcou-se (Mt 27.3-5). Quando se dá conta daquilo que provocou, Judas é tomado de desespero brutal. Ele vai correndo aos sumo sacerdotes e anciãos, arrependido da sua ação: Pequei, pois delatei sangue inocente! Uma terrível acusação aos sumo sacerdotes e anciãos. Mas ao invés de se assustarem, eles respondem friamente: Que temos nós com isso? O problema é seu! – Desse modo, eles revelam toda a sua maldade. Judas arremessa o dinheiro maldito contra o portal do templo. Depois foge em disparada.

Em vez de chorar como Pedro, em vez de olhar para Deus, olha somente para si e seu pecado. Antes, ao invés de procurar aquele que toma sobre si nossos pecados ele procurou aqueles que dizem: Que temos nós com isso? O problema é seu!

2. Ele foi entregue por Caifás (Mt 26.57-27.2).
• Caifás considerava Jesus culpado e buscava um pretexto para sua condenação. Segundo historiadores a “casa do sumo sacerdote” era uma residência luxuosa. Na parte de cima havia um espaçoso salão onde eram feitas reuniões e festas e na parte de baixo um alpendre cercado com um portão que dava para um grande pátio, em cujo “meio” os empregados da casa mantinham um fogo. E foi neste pátio que Pedro se encontrava. Pedro, talvez incomodado pelas palavras que Cristo havia dito e pelas suas respostas, ao contrário dos outros discípulos queria mostrar um comportamento diferente dos seus companheiros. No momento da prisão ele já se arriscara perigosamente por não querer admitir sua derrota. Só que seguir a Cristo “de longe” e se assentar junto com os curiosos não demonstra nenhuma fidelidade. Este “entre”, ligou Pedro, não aos que seguiam Jesus, mas àqueles que o rejeitavam.
• Na sua casa ele premeditou o mal: Olhando para o texto verificamos que não foi algo realizado sem pensar. Estava tudo planejado. O local estava preparado – O Sinédrio, principal tribunal judeu era composto por 71 membros, sendo que o número mínimo para tomar decisões era de 23 membros, Ali se reuniram todos os principais sacerdotes, os anciãos e os escribas. O juiz – O júri e As testemunhas. Tudo funcionando pra quando a população acordasse pela manhã, já deveria deparar-se com fatos consumados.
• Ele violou a lei: Na literatura judaica foram encontradas 27 transgressões em relação ao julgamento de Jesus. Os itens mais mencionados são:
• A prisão só poderia ser feita em fragrante: Jesus foi preso às altas horas da noite no Jardim Getsêmani depois de estar orando;
• Processos importantes só podiam ser tratados de dia: O julgamento prosseguiu, às altas horas da madrugada de sexta-feira, sem investigação ou processo.
• Não poderia haver julgamentos no dia anterior ao sábado ou de uma festa importante: A prisão e julgamento de Cristo foram na véspera do sábado e da Páscoa.
• A condenação só tinha validade com testemunhas. A confissão não tinha validade. As testemunhas arroladas eram falsas e disseram palavras sem entendimento. Por isso, Caifás forçou a confissão.
• Blasfêmia tinha de incluir a menção expressa do nome de Deus. Caifás pergunta a Jesus – És o Cristo, o Filho de Deus? – e ele respondeu – Tu o dizes: Em verdade vos digo: doravante vereis o filho do homem sentado à direita do Todo Poderoso;
De acordo com todos os evangelhos, Jesus morreu por causa do seu próprio testemunho. Se ele tivesse negado as acusações, teria de ser libertado. Apesar disso, a coleta de provas que não deu em nada provou a inocência de Jesus. Como se dissesse: “Quem dentre vós me convence de pecado?” (Jo 8.46). Todavia, ele não tinha nenhuma intenção de salvar a sua pele. Ele estava disposto a “sofrer segundo a vontade de Deus”. Seu silêncio evidencia “sim” para o sofrimento, mas assim que a pergunta certa é feita, ele abre a boca para responder como “a testemunha fiel e verdadeira”: Jesus respondeu: Eu (o) sou. Neste instante o sumo sacerdote, que estava de pé rasgou suas vestes para demonstrar sua indignação. Assim ele demonstrou sua lealdade à lei, pois um homem religioso não podia ouvir uma blasfêmia sem este gesto de horror (2Rs 18.37–19.1).
• Ele expôs o Senhor ao escárnio: Sob esta impressão forte, Caifás pediu os votos de todos: Que vos parece? A sentença é pronunciada ordenadamente: E todos o julgaram réu de morte. Assim, o processo não produzira somente o motivo para uma crucificação pelos romanos, mas também para um apedrejamento pelos judeus (Lv 24.10ss). Como condenado, Jesus não tinha mais direitos. Quem quisesse podia descarregar nele suas raivas, e todos quiseram. Puseram-se alguns a cuspir nele. Da pena de morte também fazia parte a aniquilação moral. A cobrir-lhe o rosto, a dar-lhe murros e a dizer-lhe: Profetiza! Jesus, porém, passou no teste à sua maneira e cumpriu Is 53.6.
• João informa que após o interrogatório “cedo de manhã” entre as 3 e 6 horas. Eles levaram Jesus para Pilatos, porém não quiseram entrar no palácio para não se contaminar. Os acusadores de Jesus se protegem da “contaminação”, que aconteceria com a simples entrada na casa gentílica, excluindo-os da participação na ceia da Páscoa. Que “hipocrisia”. Eles tinham inveja e egoísmo. Contudo, não queriam se “contaminar” por entrar numa casa gentílica. Queriam comer do cordeiro da Páscoa, mas entregam o Cordeiro de Deus à morte. Cumprem-se aqui as palavras do Senhor: “Guias cegos, que coam o mosquito e engolem o camelo! Que limpam o exterior do copo e do prato, mas por dentro deixam a sujeira!” (Mateus 23:24-25)

3. Ele foi entregue por Pilatos (Mt 27.11-26).
PILATOS era Governador romano da JUDÉIA.
a. Um político que querendo se livrar da culpa agiu politicamente: Com as autoridades: Para iniciar o interrogatório Pilatos perguntou a mesma coisa que Caifás “És tu o rei dos judeus”? Pilatos, portanto, não estava interessado em blasfêmia, mas na questão da revolta e traição contra Roma. Respondeu Jesus: Tu o dizes. Do mesmo modo como diante de Caifás, Jesus não negou diante de Pilatos. Pilatos, mesmo depois desta alegação entendia que Jesus não era nenhum criminoso, algo que ele já sabia bem antes. Porém, com sua atitude o levava diretamente para a morte. Parecia que ele queria se tornar um “rei dos judeus” crucificado.
• Os judeus, porém, não desistiam. Eles o entulharam de acusações de que ele colocava a ordem e a segurança em perigo. Tornou Pilatos a interrogá-lo: Nada respondes? Vê quantas acusações te fazem! Jesus, porém, não respondeu palavra. O que Pilatos entendeu de tudo isso? Por um lado era óbvio que o acusado havia desistido da defesa própria, por outro, percebia que os líderes nada mais queriam que eliminar um rival.
• Com o povo: Pilatos percebeu que tudo aquele alvoroço poderia abalar sua própria posição. Ora, por ocasião da festa, era costume soltar ao povo um dos presos, qualquer que eles pedissem. Nesta situação, ele enveredou por um caminho em que ele dava a volta por cima nos lideres religiosos, satisfazia o povo e assim conseguir a libertação de Jesus. Ele passou o comando ao povo, para que este resolvesse a situação. Só faltava apresentar o outro candidato e havia um, chamado Barrabás, preso com amotinadores, os quais em um tumulto haviam cometido homicídio. O lugar externo, diante do palácio se enchera de gente. Vindo a multidão, começou a pedir que lhes fizesse como de costume. E Pilatos lhes respondeu, dizendo: Quereis que eu vos solte Barrabás ou Jesus o MESSIAS o CRISTO o REI DOS JUDEUS? Do modo mais desajeitado possível ele tentou influenciar a opinião da multidão, pois a alegação de “rei dos judeus” não era considerada séria, ao passo que do ponto de vista romano, Barrabás era perigoso. A intenção de Pilatos era separar o desejo do povo do desejo dos lideres religiosos, pois ele bem percebia que por inveja os principais sacerdotes lho haviam entregado. Mas estes incitaram a multidão para que soltasse Barrabás. De fato, a multidão, há pouco ainda afeiçoada a Jesus, voltara a seu primeiro amor. O zelotismo gozava naqueles anos e décadas de simpatia crescente. E o povo que vivia sofrendo sob a violência de Roma e que esperava sua libertação por meio de homens violentos, escolheram Barrabás.
• Mas Pilatos lhes perguntou: Que farei, então, deste a quem chamais o rei dos judeus? É claro que para Jesus só restava a morte. Só Pilatos ainda não queria entendê-lo. Eles, porém, clamavam: Crucifica-o! O povo judeu, como se soletrasse disse claramente “CRUCIFICA-O”. Pilatos ainda faz uma tentativa.. Mas Pilatos lhes disse: Que mal fez ele? Porém eles não querem mais saber de conversa. Conscientemente eles declaram culpado um inocente. “Declaram”, na verdade, é um elogio. E eles gritavam cada vez mais: Crucifica-o!
b. Lavando as mãos na água e sujando com sangue inocente (27.24-26): A fim de eximir-se da culpa Pilatos lavou as mãos. Para os judeus a ação de Pilatos era muito mais impressionante. Na lei de Moisés consta que quando se encontrar uma pessoa assassinada, da qual não se sabe quem a assassinou, os anciãos da localidade devem pegar uma novilha leva-la a um riacho e ali mata-la de modo que o sangue corra para o riacho. Depois disso todos os anciãos da localidade devem lavar as mãos sobre a vaca e dizer em alta voz: Nossas mãos não derramaram esse sangue e nossos olhos não viram esse crime. Ou seja, solenemente Pilatos imita esse costume judeu na sua cadeira de juiz: ‘Sou inocente desse sangue. Vocês são responsáveis’.
• Os judeus assumiram a culpa: Uma horrível resposta ecoa pelos ares: ‘Seu sangue venha sobre nós e nossos filhos!’ Jamais foi dita uma maldição mais horrenda. E jamais uma maldição se cumpriu de maneira tão terrível. Se aqueles que a proferiram esta maldição pudessem ver 40 anos à frente, talvez não tivessem dito. No final do ano 66 soldados romanos cercaram Jerusalém e suas casas reduzidas a cinzas. Durante o sítio, os moradores famintos eram caçados torturados e crucificados. Diariamente mais de 500 judeus eram crucificados. Quando, enfim, a cidade foi conquistada, a espada romana acabou tudo o que a fome e a peste ainda tinham destruído. De acordo com Josefo, 1,1 milhões de pessoas foram mortas durante todo o tempo do sítio. Os vitoriosos pouparam somente os homens ainda jovens e saudáveis, para transformá-los em escravos. 97.000 foram levados à escravidão. Contudo, para que todos esses escravos não superlotassem o mercado, milhares deles foram destinados a lutar no anfiteatro como gladiadores ou com animais ferozes. Os demais desapareceram nas minas da Frígia ou tiveram de prestar trabalhos forçados na construção do Coliseu. Porém, Pilatos sujou a mão com sangue inocente: Cada pessoa condenada à morte na cruz era primeiramente açoitada pelos romanos. Isso de fato aconteceu. Contudo, Pilatos tentou combinar ainda outro objetivo, qual seja, torturando Jesus, queria saciar a ânsia sanguinária da multidão e assim livrá-lo. A lei judaica conhecia e previa a pena do açoitamento. Porém, o açoitamento romano era muito diferente e cruel. Para eles não valiam as limitações e medidas de cautela. Sobretudo não havia uma legislação sobre o número de chibatadas. Um limite somente se alcançava quando os algozes estavam exaustos ou tinham satisfeito sua crueldade. Por isso o açoitamento era aplicado somente em estrangeiros e escravos, às vezes como preparação para a crucificação, outras vezes como tortura para forçar uma confissão. Para executá-la eram usadas tiras estreitas de couro duro, em que foram trançados pedaços de ossos, chumbos e espinhos agudos. O delinqüente era amarrado numa coluna baixa, assim que seu corpo curvado permitia ser alcançado pelas chicotadas de todos os lados. Testemunhas que presenciaram a morte de Policarpo e dos demais martires escreveram: “Dilacerados pelos açoites, a ponto de ser possível ver os vasos sangüíneos interiores e a estrutura do corpo, eles os suportavam de tal modo que mesmo os que estavam em redor tinham compaixão e choravam”. “até os ossos ficaram expostos”. As diversas expressões para designar essa punição falam uma linguagem inequívoca: “recortar”, “dilacerar”, “quebrar”, “moer”, “perfurar”, “lavrar”. As veias, os músculos, as entranhas ficavam expostas diante dos olhares apavorados dos espectadores. Não raro o delinqüente morria sob a violência das chicotadas.

O Filho de Deus foi açoitado. Pilatos considerava Jesus inocente e buscava uma saída. Porém Jesus foi “entregue”,
• AO ESCOLHEREM BARRABÁS, ESCOLHERAM...A violência no lugar do amor. A guerra no lugar da paz. A terra no lugar do céu
• ENTREGARAM JESUS para que o amigo dos pobres e rejeitados fosse afastado. Para que a verdade fosse abafada. Para que a voz da moralidade e da justiça se calasse.

Pr Saulo César - ICE Campo Grande

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente: