quarta-feira, 17 de junho de 2009

Exegese de Cantares 3.1-11

1. Tradução do Texto[1]:
1. No Meu leito durante as noites procurei o amado da minha alma, procurei-o e não achei.
2. Vou levantar-me agora e percorrerei a cidade, pelas ruas e pelas praças; procurarei o amado de minha alma. Desejei encontra-lo e não o achei.
3. Encontraram-me os guardas que rondavam a cidade, (então lhes perguntei) o amado de minha alma vocês viram?
4. Logo que passei por eles achei o amado de minha alma. Agarrei-o e não o deixei ir, até que o introduzi na casa de minha mãe, no quarto daquela que me concebeu.
5. Jurem para mim mulheres de Jerusalém, pelas gazelas e pelas corças do campo, não despertem, nem acordem o amor, até que este o queira.
6. Quem é esta que sobe do deserto como coluna de fumaça, como um sacrifício de mirra e incenso e todo pó aromático do mercador?
7. É a liteira (cadeira/cama) de Salomão, escoltada por sessenta valentes, os mais nobres de Israel.
8. Todos trazem espada e são experimentados na guerra; cada homem com sua espada do lado, por causa dos pavores (perigos) da noite.
9. O rei Salomão fez para si um palanquim (liteira – cadeira - cama) de madeira do Líbano.
10. Fez-lhe as colunas de prata, sua base (apoio) de ouro, o assento foi forrado de púrpura, seu interior foi modelado (decorado) com amor pelas filhas de Jerusalém.
11. Saiam, ó filhas de Sião (Jerusalém), vejam o rei Salomão com a coroa que sua mãe o coroou no dia do seu casamento, no dia que alegrou seu coração.

2. PARAFRASE:

1. Noite após noite procurei pelo o meu amado na cama, procurei porque o desejava, porém não achei meu amado ao meu lado.

2. Durante as noites em sonho fui à sua procura pelas ruas e pelas praças da cidade. Fui à procura dele porque o desejo muito, porém por mais que eu desejasse encontra-lo não o achei.

3/4. Porém no sonho só encontrei os guardas que faziam a ronda na cidade, então eu lhes perguntei: vocês viram o meu amado? Não, responderam! Entretanto, logo que os deixei encontrei meu amado, aquele que eu tanto desejo; então me agarrei a ele e para que não fosse embora o levei para minha casa e ele ficou no quarto da minha mãe.

5. Mulheres de Jerusalém jurem para mim, pelas gazelas e pelas corças que vivem no campo, esperarem até o momento certo para o amor, o momento em que estejam preparadas.

6. O que é aquilo que vem subindo do deserto levantando uma nuvem de poeira, como se fosse um sacrifício de mirra e incenso de especiarias compradas de mercador?

7/8. É a cadeira do Rei Salomão que vem carregada por dois homens, um na frente e outro atrás, e sessenta valentes estão ao redor dela. Estes valentes são os mais nobres de Israel, experimentados na guerra e peritos no uso da espada; cada um está com sua espada preparados para enfrentar os perigos da noite.

9/10 A cadeira que o Rei Salomão mandou fazer era de madeira da melhor qualidade, vinda do Líbano. As suas colunas eram cobertas de prata, o seu teto de tecido bordado a ouro e seu banco estofado com um fino tecido vermelho, feito com todo o carinho pelas mulheres de Jerusalém.

11. Mulheres de Jerusalém saiam para ver o Rei Salomão que vem com a coroa que sua mãe o coroou para seu casamento, para alegrar seu coração nesse dia.

3. IDÉIA EXEGÉTICA:

· Noites após noites na cama a Sulamita procura em vão seu amado, ao adormecer ela continua procurando-o nos seus sonhos, até que o encontra. Ao amanhecer de longe se vê uma nuvem de poeira, é seu amado chegando, ele vem escoltado por sessenta valentes para a festa nupcial.

4. ESBOÇO EXEGÉTICO:

1. Noites após noites na cama a Sulamita busca em vão seu amado e em sonhos o encontra (v. 1-5).
a. Durante as noites na cama Sulamita procura em vão seu amado (v. 1).
b. Durante as noites na cama Sulamita sonha à procura do seu amado (v. 2-3).
c. Durante os sonhos das noites Sulamita encontra seu amado (v. 4-5).

2. Ao amanhecer de longe se vê seu amado chegando escoltado por sessenta valentes para a festa nupcial (6-11).
O amado vem levantando uma nuvem de poeira (v. 6).
O amado vem sentado na sua cadeira real escoltado por sessenta valentes (v. 7-8).
O amado vem sentado na sua cadeira real com a sua coroa na cabeça para a festa nupcial (9-11).

5. COMENTÁRIOS - VERSOS 1-5:

INTRODUÇÃO: Segundo o Manual Bíblico H. H. Halley, Cantares de Salomão é um cântico de amor, produzido em florida primavera, com fartura de metáforas e figuras de linguagem orientais. É chamado o “Cântico dos Cânticos”, indicando possivelmente que Salomão o considerava superior a todos os outros cânticos que escreveu.[2] Neste trecho a construção gramatical e o enredo são relativamente fáceis e claros: é a jovem Sulamita durante a noite na cama à procura do seu amado, não o achando sai a sua procura pelas ruas e praças da cidade até encontrá-lo. Porém entendo como muitos comentaristas que esses versículos descrevem um sonho, pois para uma donzela é inconcebível estar com o noivo na cama antes do casamento, portanto só poderia ser num sonho que ela pudesse busca-lo. Além disso, a partir do verso 2 acontecem algumas situações inusitadas com a jovem interiorana nas ruas escuras de Jerusalém, o que normalmente não aconteceria se não nos sonhos.[3]

VERSÍCULO 1:
Noite após noite procurei pelo o meu amado na cama, procurei porque o desejava, porém não achei meu amado ao meu lado.

Como normalmente acontece nos dias em que antecede o casamento a ansiedade toma conta do coração dos noivos. Como o resultado de sua ansiedade diária, é de se imaginar que a Sulamita vinha tendo sonhos agitados durante as noites. Moffatt traduz "noite após noite" para mostrar que foram noites e noites de procura ansiosa para achar a pessoa a quem deseja.[4]
O verbo buscar no hebraico (vqb baqash), tem o sentido de requerer, desejar, exigir, requisitar, procurar para encontrar; no contexto da forma repetitiva com que foi colocado também enfatiza o grande esforço e diligência com que esta procura foi feita.
A jovem Sulamita estava ansiosa para que o casamento logo se consumasse. Dominada pelos seus pensamentos durante as noites se virava na cama “inflamada de amor e desejo” a procura do seu amado[5]. No entanto quando se está dormindo há apenas alguns minutos o sono é leve, o sonho é como se fosse um devaneio, vai e vem, às vezes interrompido por sobressaltos assustados, nesses intervalos podemos até imaginar as mãos de Sulamita à procura do amado, mas ele não estava presente. Samuel Rutherford, alegorizando este verso diz: "Assim como noites e dias são melhores para as flores que o sol contínuo, semelhantemente a ausência de Cristo, ocasionalmente, dá seiva à humildade e dá oportunidade à fome, fornecendo um campo próprio para a fé mostrar-se".[6]

VERSÍCULO 2:
Durante as noites em sonho fui à sua procura pelas ruas e pelas praças da cidade. Fui à procura dele porque o desejo muito, porém por mais que eu desejasse encontra-lo não o achei.
As noites oferecem oportunidades para libertação dos problemas “Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã”, diz o salmista (Sl 30.5b). É na cama durante os sonhos que a Sulamita extravasa a sua ansiedade. O amor que ela nutria por seu amado era tanto que ela repetidamente expressava “busquei o amado de minha alma (v.1); buscarei o amado da minha alma (v. 2); vistes o amado da minha alma? (v. 3); encontrei o amado da minha alma (v. 4)”. Tanto na busca incessante (v. 1-3), quanto no encontro (v. 4) nota-se que ela o amava no fundo da alma. A partir deste verso, o sono é profundo, e em seu sonho a jovem interiorana sai a procura de seu amado pelas ruas e praças de Jerusalém. Jerusalém era uma cidade grande para a época, rodeada de muralhas, suas ruas eram estreitas, havia espaços largos nos cruzamentos[7]. No entanto por mais que ela o procurasse e desejasse seu amado era difícil encontra-lo nas ruas escuras da noite.

VERSÍCULOS 3/4:
Porém no sonho só encontrei os guardas que faziam a ronda na cidade, então eu lhes perguntei: vocês viram o meu amado? Não, responderam! Entretanto, logo que os deixei encontrei meu amado, aquele que eu tanto desejo; então me agarrei a ele e para que não fosse embora o levei para minha casa e ele ficou no quarto da minha mãe.
O sonho continua. A jovem Sulamita vê-se desorientada pelas ruas da cidade. Nas noites escuras havia guardas que patrulhavam Jerusalém, eles moviam-se silenciosamente pelas ruas, interrogando e tratando de pessoas suspeitas. Devem tê-la encontrado vagando perdida pelas ruas da cidade[8]. Em qualquer circunstância, mesmo perdida, ela não esquecia o alvo da sua procura “vocês viram o meu amado?”, perguntou. Ele era o rei, todos deveriam conhecê-lo, mas ninguém o tinha visto, portanto não poderiam ajudá-la. Existe um ditado popular que diz: “Aquele que busca sempre alcança ou quem procura acha”, e finalmente, em seu sonho, a jovem apaixonada encontra seu amado “logo que os deixei encontrei meu amado, aquele que eu tanto desejo”. Cristo também é assim; muitos o procuram, às vezes não o encontram, porém finalmente o acham. Como regra geral, Cristo é encontrado próximo dos meios de graça[9].
O verso quatro mostra que depois de toda a ansiosa busca (vs 2-3), no meio da alegria e satisfação por ter encontrado o amado, Sulamita se mostra preocupada em guarda-lo em um lugar seguro. Tanto que ela correu para ele e o agarrou. O verbo agarrar (zxa ‘achaz), tem o sentido de: segurar com firmeza, pegar, tomar posse; apoderar-se;[10] pode-se imaginar todas estas formas usadas no abraço que ela deu no seu amado. Deve ter sido um abraço apertado, caloroso e cheio de amor. Um abraço do tipo “não quero que fuja”, tanto é que ela não permitiu que ele se retirasse da sua presença, levando-o para a casa de sua mãe. Quando se encontra um tesouro deve-se guardar. Assim Jesus compara o Reino dos céus: “O reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo homem, tendo-o achado, escondeu” (Mt 13.44).
A sentença “Na casa da minha mãe”, tem sido interpretada de diversas maneiras: para os alegóricos implica em confessar a Cristo abertamente. “Mãe” pode significar a igreja, a nação, os judeus e a humanidade.[11] O termo casa (tyb - bayith) geralmente tem o sentido de lugar que abriga uma família. Pode-se entender neste verso que a Sulamita, depois de achar o seu amado, não só procura introduzi-lo no abrigo da família, mas no lugar mais íntimo da casa, ou seja, no quarto (rdx - cheder) da sua mãe. Champlim argumenta que no Oriente, as mulheres casadas possuíam compartimentos separados na casa grande da família.[12]
Todo sonho tem seu final. Ao despertar ela percebe que não estava no aposento da mãe, e sim nas dependências do palácio real. Seu sonho se reduziu a nada. Ela estava sozinha novamente. Seu amado, aquele que ela havia buscado, encontrado, abraçado fortemente e levado para sua casa “a casa de sua mãe” não estava ao seu lado. Foi apenas um sonho, um sonho que por alguns momentos satisfez seu desejo.

VERSÍCULO 5:
Mulheres de Jerusalém jurem para mim, pelas gazelas e pelas corças que vivem no campo, esperarem até o momento certo para o amor, o momento em que estejam preparadas.
Este verso é um coro ou estribilho e ocorre também em Ct 2.7 e 8.4, marca uma pausa no Cântico, como se fosse para deixar o casal de nubentes juntos e felizes por algum tempo.[13] O termo conjuro-vos (ebv) é uma expressão comum no Antigo Testamento, porém na forma que foi usada aqui tem o sentido de “rogar urgentemente”, ao invés de fazer jurar, pois os juramentos só podiam ser feitos em nome de Deus (Dt 6.13; 10.12), portanto jurar por animais seria idolatria e igualmente sem sentido.[14] Tanto as gazelas, quanto as cervas do campo são animais conhecidos por sua timidez e figuras típicas na poesia oriental para simbolizar a pureza e a beleza feminina e na linguagem imaginária do amor sejam retratadas como testemunhas do juramento.[15] A expressão “não despertem nem incitem o amor até que este o queira” tem sido um ponto conflitante entre os comentaristas, e interpretada de varias formas:
Uma advertência ao amor sexual que deve ser evitado até o momento em que a pessoa esteja preparada.[16]
Um apelo da Sulamita às mulheres de Jerusalém para que não se apressem ou não despertem o amor, para que tudo corra normalmente.[17]
Uma ordem de Sulamita às suas atendentes que não a excitasse para fazer amor, até que chegasse o momento exato.[18]
Para que não interrompam o doce sonho de amor que ela está gozando, ao chamá-la de volta a realidade da situação presente.[19]
Ao acordar a Sulamita aconselha as suas companheiras para que deixem o amor desenvolver-se naturalmente; não o forcem.[20]
Os interpretes alegóricos entendem como se significasse: "Não entristeçais o Espírito".[21]
De acordo com o contexto entendo que esta expressão é um princípio alusivo à pureza e a virgindade e uma advertência clara que o amor sexual deve ser evitado até o momento em que a pessoa esteja pronta e preparada para o ato, ou seja, somente depois do matrimônio. Concordo com um comentarista que diz: essas palavras deveriam ser escritas em letras de ouro em cada salão onde se congregam os jovens.[22] Entendo que a Sulamita esteja se dirigindo às suas companheiras, para que estas esperarem até o momento certo para o amor desenvolver. Ela soube esperar, portanto elas também podem e devem agir da mesma forma. Para mim a melhor forma de tradução é “esperarem até o momento certo para o amor, o momento em que estejam preparadas”. Chego a esta conclusão por três motivos.
Ela não pode estar se referindo a Salomão porque a palavra “amor” em hebraico (hbha - ‘ahabah) é feminina.
Por não usar o substantivo dd (dod), mas sim hbha (ahabah), o autor está querendo enfatizar a busca de um amor total e não de apenas uma mera excitação sexual.
Ela pode estar se referindo às mulheres de Jerusalém, porque apesar da forma verbal usada para amor (hbha - ‘ahabah) estar no singular, o substantivo tem um artigo; então não é qualquer amor, mas o amor particular de cada mulher do harém.

6. COMENTÁRIOS - VERSOS 6-11:
INTRODUÇÃO: De varias maneiras esta unidade (Ct 3.6-5.1) é o coração de Cantares. O grande progresso no relacionamento traçado até aqui se desenvolve ainda mais na seqüência do casamento e na consumação do amor do casal.[23] Toda a espera e ansiedade da jovem Sulamita chegara ao fim. Este trecho (6-11) retrata a chegada do noivo, que poderia ser visto de longe com a sua comitiva todo resplandecente para a cerimônia nupcial.[24]

VERSÍCULO 6:
O que é aquilo que vem subindo do deserto levantando uma nuvem de poeira, como se fosse um sacrifício de mirra e incenso de especiarias compradas de mercador?
A indagação “o que é aquilo” (taz ym - mizo't), tem sido um ponto conflitante entre os comentaristas. A primeira discussão é: quem fez a indagação a Sulamita ou as mulheres de Jerusalém. A segunda discussão esta em decidir se “aquilo” se refere a uma pessoa que pode ser a Sulamita ou Salomão ou um objeto a cadeira (liteira).
Quanto ao primeiro problema, Champlim entende que a indagação foi feita pela Sulamita, que chama suas companheiras para apreciarem a cena.[25] No entanto, alguns comentaristas entendem que se trata de um coro das mulheres de Jerusalém que observam a chegada do Rei aproximando-se da cidade. [26] Penso que definir quem fez esta indagação não interfere em nada na análise do texto, porém concordo com aqueles que entendem que se trata das companheiras da Sulamita conclamando a chegada do Rei. Faço esta opção pelo fato de que em todo trecho (6-11) Salomão é tratado não como alguém próximo “o amado”, e sim como o “Rei”, termo que a Sulamita não usa em todo o contexto.
O segundo problema é mais complexo. O pronome (taz ym - mizo't) é feminino, portanto “aquilo” não pode estar se referindo a Salomão ou a alguém do sexo masculino. No entanto, é neutro, podendo se referir tanto à Sulamita, quanto à cadeira (liteira) de Salomão. Alguns comentaristas defendem “aquilo” como uma referencia à Sulamita pelo uso do prefixo ym (mî) que presume a referencia a uma pessoa, ao invés de um objeto, que normalmente introduzido por am (mâ).[27] Contudo, concordo com alguns comentaristas que entendem se tratar de uma referência à cadeira (liteira) de Salomão [28], pois o contexto, nos versos seguintes assim nos dá a resposta: “É a cadeira do Rei Salomão!” (v. 7).
Jerusalém estava edificada sobre uma colina a uma altitude de 765mt. A leste ficava o vale do Cedrom e a oeste o vale de Hinom, portanto era costume de se referir a qualquer um que viajasse à cidade que literalmente “subia”. O Deserto pode significar espaços abertos bem vastos, que não há habitações permanentes com ou sem pastagem.[29]
Surgindo no horizonte levantando uma nuvem de poeira a comitiva de Salomão é avistada. A alusão à “coluna de fumaça”, sugere que a poeira levantada no ar pelos cavalos relembre a queima do sacrifício no Templo. O incenso era queimado à frente das procissões importantes. O costume de antecipar um cortejo com incenso era muito antigo e comum no Oriente. Portanto, não seria incomum que a cadeira de Salomão, além da poeira dos cavalos, também estivesse envolta pelas nuvens do incenso queimado a frente e atrás dela.[30]

VERSÍCULO 7/8:
É a cadeira do Rei Salomão que vem carregada por dois homens, um na frente e outro atrás, e sessenta valentes, os mais nobres de Israel, estão ao redor dela. Estes valentes são homens experimentados na guerra e peritos no uso da espada; cada um está com sua espada preparados para enfrentar os perigos da noite.
A cadeira era uma espécie de trono em que Salomão viajava, era fechada e sustentada por dois cabos de madeira sendo carregada por dois animais ou por dois homens, um na frente e outro atrás.[31] Sessenta valentes faziam a escolta pessoal do Rei. Tinham o dever de guarda-lo e defende-lo nas suas viagens. Era a elite entre os guerreiros, homens com experiência de guerra e que se destacavam nas batalhas, com habilidade e destreza no uso da espada.
Era comum que os amigos do noivo o acompanhasse até a cerimônia e provavelmente a guarda pessoal também se compunha de amigos do Rei. Relembra os valentes de Davi (2Sm 23.8) e os amigos de Sansão que o acompanhava durante o seu banquete nupcial (Jz 14.11). Cada guerreiro deveria estar atento e com a sua espada ao lado. Um cortejo nupcial certamente levava presentes para a noiva, e normalmente eram viagens longas e muitas vezes teria que viajar sob a escuridão da noite, passando por perigos de feras e salteadores. [32]
A figura do Rei chegando simboliza todo jovem apaixonado chegando para a cerimônia do casamento. Ele vinha com o melhor que possuía; a melhor cadeira, os melhores guerreiros, os amigos mais chegados, preocupado com a sua segurança e certamente muitos presentes para aquela que ele escolhera para esposa. Sua chegada se assemelha a chegado do noivo à cerimônia de casamento descrita por Jesus na parábola das dez virgens (Mt 25.6) e a volta de Cristo que virá para levar a Igreja para as bodas do Cordeiro (Ap 19.7).

VERSÍCULO 9/10:
A cadeira que o Rei Salomão mandou fazer era de madeira da melhor qualidade, vinda do Líbano. As suas colunas eram cobertas de prata, o seu teto de tecido bordado a ouro e seu banco estofado com um fino tecido vermelho, feito com todo o carinho pelas mulheres de Jerusalém.
As montanhas do Líbano são conhecidas por sua vasta quantidade de madeiras, lá se encontra tanto o cedro quanto o cipreste. O cedro é uma árvore alta, com muitos ramos, resistente com boa madeira para construção (Is 2.13; 2Sm 7.7). O cipreste é uma arvore sempre verde, cuja madeira era usada em construção e na feitura de móveis (Is 44.14).[33]
Foi com a madeira do Líbano o cedro ou o cipreste que Salomão mandou fazer a sua Cadeira real. O teto era sustentado por colunas revestidas de prata, o seu revestimento de tecido bordado com ouro. O assento era de púrpura, um tecido caro, vermelho-arroxeado, usado pelos antigos como símbolo de riqueza e de alta posição social (Ap 18.12). O vermelho -arroxeado era obtido através de um molusco que crescia no Mediterrâneo. Somente a realeza podia obter essa tinta, pois era caríssima.
Esta cadeira não era uma cadeira comum, toda a sua decoração foi realizada com muito carinho pelas mulheres de Jerusalém. Sua descrição destaca tanto a riqueza quanto a realeza do Rei Salomão. [34]

VERSÍCULO 11:
Mulheres de Jerusalém saiam para ver o Rei Salomão que vem com a coroa que sua mãe o coroou para seu casamento, para alegrar seu coração nesse dia.
Há esta hora a comitiva estava na cidade, não só a cadeira real poderia ser admirada, mas também toda a realeza. Saiam de suas casas era a ordem, venham contemplai o rei. Este era o coro provavelmente entoado pelas companheiras da noiva, que iam ao encontro da procissão nupcial. O dia do casamento era um dia de jubilo, com festas e convidados. A mãe do noivo Bete-Seba estava presente. Para ocasião ela mandou preparar uma coroa especial para coroar seu filho neste dia tão feliz. A mesma alegria e regozijo é descrita em Isaías, onde profeta descreve o júbilo de Sião por contemplar bênçãos do Senhor “porque me cobriu de vestes de salvação e me envolveu com o manto de justiça, como noivo que se adorna de turbante, como noiva que se enfeita com as suas jóias” (Is. 61:10). Lembra-nos também a esplêndida coroa, símbolo da restauração do relacionamento entre Israel e o Senhor, pois “Nunca mais te chamarão Desamparada, nem a tua terra Desolada; mas chamar-te-ão Minha-Delícia; e à tua terra, Desposada; porque o SENHOR se delicia em ti; e a tua terra se desposará. Porque, como o jovem desposa a donzela, assim teus filhos te desposarão a ti; como o noivo se alegra da noiva, assim de ti se alegrará o teu Deus” (Is 62.3-5).
Esta coroação confirma que a festa era nupcial, pois a coroação tradicional feita na ocasião da posse do trono era feita pelo representante divino, ou seja, o Sumo Sacerdote.[35] Esta coroa não era a coroa real usada normalmente pelo rei. Era uma coroa usada especialmente por ocasião dos casamentos. Alguns comentaristas sugerem que era uma “grinalda” feita de pedras preciosas, ouro e prata que são símbolos de honra e alegria.[36]

7. PRINCÍPIOS TEOLÓGICOS:

CANTARES 3.1-5:
1. O resultado da ansiedade, agitação e a preocupação diária podem gerar uma noite de insônia e sonhos agitados.

2. Aquele que sonha alcança seus objetivos com mais facilidade. No entanto, para que haja um equilíbrio entre o sonho apaixonado e a realidade do dia-a-dia é preciso que se faça um balanço entre o encantamento e as obrigações diárias.

3. Quem procura diligentemente acaba encontrando aquilo que busca e quando se encontra o tesouro deve-se guardar (Mt 13.44).

4. A noite serve para aliviar as ansiedades diárias e pode oferece oportunidades para libertação dos problemas (Sl 30.5b).

5. Assim como os sonhos serviram para aliviar a ansiedade de Sulamita; semelhantemente Cristo alivia os cansados e sobrecarregados que o busca. Assim como a jovem Sulamita buscou o seu amado; semelhantemente a Igreja de Cristo deve busca-lo. A distância de Cristo gera no humilde um campo fértil para a fé que a fé sobressaia.

6. O sexo precoce deve ser evitado. Deve-se buscar a pureza e a virgindade até o momento em que a pessoa esteja pronta e preparada para o ato, ou seja, somente depois do matrimônio.

CANTARES 3.6-11:
7. A futura esposa merece o melhor presente. Por isso manter-se vivo e saudável deve ser uma preocupação de todo noivo. Descansa no Senhor não se assustará com o terror noturno, nem da seta que voa de dia (Sl 91.1-5).

8. O matrimônio é uma instituição divina e santa, portanto uma ocasião para festejar e se alegrar com seus amigos e parentes. Os pais devem apoiar e se alegrar com matrimônio de seus filhos.

9. Assim como a vinda de Salomão para as núpcias foi motivo de festa; semelhantemente a vinda de Cristo será o mais glorioso evento, para os que nele esperam. Assim como Salomão veio para contrair núpcias com Sulamita; semelhantemente Cristo virá para levar a Igreja para as bodas do Cordeiro (Ap 19.7). [37]


CONCLUSÃO:

Qualquer que seja a interpretação, literal ou alegórica, não se pode deixar de ressaltar os grandes ensinos que este trecho nos trás. A jovem Sulamita nos dá exemplo de como pode haver um equilíbrio entre o sonho apaixonado e a realidade da luta diária. Manter-se puro diante de uma sociedade contaminada e corrupta é uma tarefa das mais difíceis, no entanto em Cantares aprendemos que isso é possível. A luta da jovem Sulamita pode representar a luta diária da Igreja de Cristo contra a tentação. Sua vitória e alegria ao encontrar-se com o amado também simbolizam a glória da Igreja ao encontrar-se com seu Noivo.
Um dia as filhas de Jerusalém também contemplaram o Salvador Jesus Cristo coroado com uma coroa, não de ouro, mas de espinhos. No futuro haverá um dia melhor e mais brilhante, onde não só as filhas de Jerusalém e a congregação judaica voltarão para o Senhor, unindo-se a todos os santos, dando-Lhe glória como Redentor. Neste dia glorioso a Igreja de Cristo o coroará de glória e honra.[38]

BIBLIOGRAFIA:

“A Bíblia Anotada”; 1.º edição, Almeida, Revista e Atualizada no Brasil, São Paulo (SP), Editora Mundo Cristão, 1991.

BARKER, Kenneth; BURDICK, Donald. “Bíblia de Estudo NVI”; São Paulo (SP) Editora Vida, 2003.

“Bíblia de Estudo Almeida”; 2.º edição, Almeida, Revista e Atualizada no Brasil, Barueri (SP) Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.

Bíblia Online Módulo Avançado 3.0 - “Léxico de Português hebraico”; “Dicionário da Bíblia de Almeida”; Barueri (SP), Sociedade Bíblica do Brasil.

Bíblia Online Módulo Avançado 3.0 “O novo Comentário da Bíblia”; Barueri (SP), Sociedade Bíblica do Brasil.

CHAMPLIM, R. H. “O Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo”; Volume 4, 1.º edição, São Paulo (SP), Editora Hagnos, 2003.

DOCKERY, David S. - Editor Geral - “Manual Bíblico Vida Nova”. 1.° edição, São Paulo (SP), Edições Vida Nova, 2001.

DOUGLAS, J. D. “O Novo Dicionário da Bíblia”; 2.º edição, São Paulo (SP), Ed. Vida Nova, 2002.

EATON, A. Michel; CARR, G. Lloyd. “Eclesiastes e Cantares Introdução e Comentário”; 1.º edição, São Paulo (SP), Editora Mundo Cristão 1989.

HALLEY, Henry H. “MANUAL BÍBLICO - Um comentário Abreviado da Bíblia”; 9.° edição, São Paulo (SP), Edições Vida Nova, 1989.

HOOVER, Richard L. “Livros Poéticos – Jó a Cantares”; 2.º edição, Campinas (SP), EETAD, 1994.

MESQUITA, Antonio Neves. “Estudo nos Livros de Eclesiastes e Cantares de Salomão”; 1.° edição, Rio de Janeiro (RJ), JUERP, 1977.

SHEDD, Russel P. “Bíblia Shedd - Antigo e Novo Testamentos”; 2.º edição, Almeida, Revista e Atualizada no Brasil, São Paulo (SP) Edições Vida Nova, 1997.
[1] Bíblia Online Módulo Avançado 3.0 - Léxico de Português hebraico.
[2] HALLEY; – pg 250.
[3] Novo Comentário Bíblico da Bíblia on Line – CHAMPLIM; pg. 2759.
[4] Novo Comentário Bíblico citando Moffatt - Bíblia on Line.
[5] CHAMPLIM; pg. 2758.
[6] Novo Comentário Bíblico da Bíblia on Line - MESQUITA; pg. 188.
[7] Novo Comentário Bíblico da Bíblia on Line – CHAMPLIM; pg. 2759.
[8] Novo Comentário Bíblico da Bíblia on Line – CHAMPLIM; pg. 2759.
[9] Novo Comentário Bíblico da Bíblia on Line - MESQUITA; pg. 188.
[10] Bíblia Online Módulo Avançado 3.0 - Léxico de Português hebraico.
[11] Novo Comentário Bíblico da Bíblia on Line - MESQUITA; pg. 188.
[12] CHAMPLIM; pg. 2758.
[13] MESQUITA; pg. 184.
[14] EATON; CARR; pgs. 251/252.
[15] Novo Comentário Bíblico da Bíblia on Line - Nota de Rodapé da NVI – pg 1124.
[16] Dockery; – pg 415.
[17] Hoover; pg 190/191.
[18] CHAMPLIM; pg. 2757.
[19] EATON; CARR; pg. 253.
[20] Nota de rodapé Bíblia anotada – pg. 843/854.
[21] Novo Comentário Bíblico – Bíblia on Line.
[22] MORGAN; citado no Novo Comentário Bíblico – Bíblia on Line.
[23] EATON; CARR; pg. 264.
[24] Novo Comentário Bíblico – Bíblia on Line.
[25] CHAMPLIM; pg. 2759.
[26] Dockery; – pg 415 - Hoover; pg 190/191- Nota de Rodapé da NVI – pg 1125.
[27] EATON; CARR; pg. 266.
[28] Novo Comentário Bíblico – Bíblia on Line - CHAMPLIM; pg. 2759 - MESQUITA; pg. 189.
[29] EATON; CARR; pg. 266.
[30] CHAMPLIM; pg. 2759.
[31] Dicionário - Bíblia on Line - Nota de rodapé Bíblia anotada – pg. 844.
[32] MESQUITA; pg. 190 - Nota de rodapé Bíblia de Estudo Almeida; pg. 718 - CHAMPLIM; pg. 2760.
[33] Novo Comentário Bíblico/Dicionário – Bíblia on Line - Nota de rodapé Bíblia de Estudo Almeida; pg. 718.
[34] Dicionário – Bíblia on Line - MESQUITA; pg. 190 - CHAMPLIM; pg. 2760 - EATON; CARR; pg. 270.
[35] EATON; CARR; pg. 271.
[36] Nota de rodapé NVI; pg. 1126 – Hoover; pg 190 – EATON; CARR; pg. 271 - CHAMPLIM; pg. 2760.
[37] Nota de rodapé – Bíblia Shedd; pg. 974.
[38] Novo Comentário Bíblico – Bíblia on Line - MESQUITA; pg. 191.

Deus abençoe
Pr Saulo César da Silva

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